domingo, 22 de setembro de 2013

"Mentiras Verdadeiras"_Pedro Maciel

Neste nosso OUTRO_ESPAÇO
chega o trabalho bastante interessante, aliando textos e músicas, 
do escritor Pedro Maciel.







VOZ DO ESCRITOR

Júlio Assis (Jornal "O Tempo")

 "Eu poderia contar uma história de ficção, mas a realidade é tão absurda
que tudo parece sair da minha imaginação"
A leitura é uma vivência que traz com ela a solidão prazerosa da experiência entre o leitor e o mundo de cada livro. Já nas formas coletivas de fruição literária, como as leituras em grupo, ganha uma dimensão muito peculiar quando ocorre de ouvirmos o próprio autor lendo o que ele escreveu e publicou. A verdade do texto (que pode ser ficção) parece, com a emoção da fala, mais clara, atraente e cativante aos ouvidos do que os labirintos das linhas para os olhos, especialmente no campo poético.
Essa constatação que já apreciei em diversas boas oportunidades, reafirmei ao assistir há pouco ao espetáculo “Mentiras Verdadeiras”, que reúne os irmãos Pedro Maciel (escritor) e Juarez Maciel (pianista e compositor). De seus livros “Previsões de um Cego” e “Retornar com os Pássaros”, lançados pela ed. LeYa, Pedro retirou trechos que lê acompanhado pelo requintado piano-solo de Juarez. Ao fundo, belas e instigantes fotografias projetadas, devidamente creditadas e acompanhadas de frases provocantes de Pedro, como: “Nunca cismo com os meus abismos”.
Embora publicadas como romances, as narrativas de Pedro Maciel se definem melhor, se for preciso definir, ao que se chama de prosa poética. Daí cada frase pode saltar do encadeamento narrativo para um significado próprio (“Meus esquecimentos são memoráveis”, por exemplo). E daí é que pelas frases quase-versos se configura uma dimensão cênica amparada também pela música e pelas imagens.
O fato de o próprio escritor “interpretar” o que ele escreveu permite uma entonação exata e calculadamente imprecisa, com ênfases ou repetições nas palavras quando o texto assim pede. Pedro calcula também os movimentos, lendo às vezes sentado ou de pé, ou ainda ocasionalmente de costas para o público.
Sucinto e elegante o piano de Juarez não passa ao largo. Tocando às vezes temas próprios ou livres, em outras salpicados de citações, e até interpretando peças de compositores como Ryuichi Sakamoto, ele não poderia, com a experiência que tem como músico, ser apenas pano de fundo. É solista e protagonista.
Acompanho há décadas o talento de ambos em artes distintas e é grata surpresa ver os irmãos juntos no palco pela primeira vez, movidos pela perspicaz sacada do espetáculo “Mentiras Verdadeiras”. Do que acompanho de dezenas de salões literários que felizmente continuam aumentando pelo país, é saudável, em vez de apenas o escritor atrás de uma mesa falando para o público, a chegada de alternativas diferentes de se emocionar com a literatura como ocorre com esse formato de apresentação em torno de 30 minutos.

Para terminar, alguns trechos da obra de Pedro Maciel, que você pode ler meramente como um texto impresso ou imaginar com toda a mise-en-scène que relatei:

“Um dia vou retornar com os pássaros para retraçar o itinerário de minha fuga. Não me resta muito tempo. Mas voltemos à realidade, este tempo tão sonhado. O sonho é sempre outra história de vida, enquanto a história é sempre outro sonho de vida”.

"Preciso consertar o meu radiotelescópio para gravar os ruídos celestes. Ouço vozes, vaga-lumes e estrelas. Ouço em silêncio. Ouço tudo em silêncio”.

“Eu me propus a escrever um livro enciclopédico, mitológico e cosmogônico. Um romance do Universo, escrito por alguém que não é astrofísico. A minha intenção é ‘descrever’ o espaço metafísico e, ao mesmo tempo, ‘revelar’ o Universo físico”.

"Há dias tento nomear planetas descobertos recentemente. Quando olho para o passado vejo apenas antigas estrelas. Eu medi o céu, como Kepler. Inventariar coisas invisíveis e lugares imaginários é o meu passatempo. Não sei se me resta muito tempo. Quanto tempo ainda me resta? Um dia vou retornar com os pássaros".

“Quem você pensa que é? Não sou ninguém, mas não conto a ninguém que não sou ninguém”.

“Eu poderia contar uma história de ficção, mas a realidade é tão absurda que tudo parece sair da minha imaginação”.




 http://vimeo.com/73802498

Texto e voz: Pedro Maciel Música: Erik Satie Piano: Juarez MacielVídeo: Roberto Bellini Teatro: Casa da Ópera do Memorial Minas Gerais Vale

(...): não me iludo mais em plena luz do dia. Não mais disfarço a minha loucura. Rio de mim mesmo. Só choro pelos outros. Desmistifico mitos. Faço as coisas sem sentido.
Vejo que nada mais tem sentido. Improviso fugas. Corro do tempo parado. Memorizo manhãs de um não tempo. Vislumbro coisas invisíveis. Quero o que era infinito.
Retorno com os pássaros. Experimento sensações orientais. Desoriento-me no ocidente. Não lembro quem sou nem onde estou. Nem sempre regresso das minhas viagens
Fragmento do romance "Retornar com os pássaros", ed. LeYa




Release da apresentação
 "Mentiras verdadeiras"
  
O romancista Pedro Maciel apresenta a performance “Mentiras verdadeiras” em eventos literários e culturais.
Segundo Adorno, “arte é a magia libertada da mentira de ser verdadeira”, ou como ressalta Fernando Pessoa, “o público não quer a verdade, mas a mentira que mais lhe agrade”.
Maciel exibe treze imagens e lê/interpreta fragmentos dos seus romances “Retornar com os pássaros” e “Previsões de um cego”, publicados pela editora Leya em 2010 e 2011.
O pianista Juarez Maciel o acompanha interpretando trechos de músicas de Satie, Debussy, Sakamoto e trechos de composições próprias.
A intenção é comover o público. Afinal, o que nos resta além da emoção?, questiona o autor.

Sobre a obra de Pedro Maciel:

Segundo o escritor e crítico Silviano Santiago, em “Previsões de um cego”, ed. Leya, “a ambição da prosa inovadora de Maciel afirma-se fora do ritmo e do compasso disto a que classificamos nas salas de aula e nos manuais como Literatura brasileira ou ocidental. A prosa inspirada e utópica do autor vai levar o leitor a deslocamentos súbitos e sucessivos do eu por esferas celestes nunca dantes navegadas”.

O filósofo e poeta Antonio Cícero ressaltou no posfácio de “Como deixei de ser Deus”, ed. Topbooks: “de certo modo, é o tempo o verdadeiro tema desse livro, que pode ser considerado uma espécie de Bildungsroman, isto é, de romance de educação ou formação. Pode-se dizer que é justamente a intensa capacidade de instigar a sensibilidade, o pensamento e a imaginação que constitui um dos maiores encantos de Como deixei de ser Deus”.

“O escritor brasileiro Pedro Maciel possui uma virtude rara entre os novos escritores de língua portuguesa: a originalidade”. José Eduardo Agualusa

“Retornar com os pássaros é muito bonito, inteligente e instigante”. Ferreira Gullar

“Como deixei de ser Deus foi para mim uma gratíssima surpresa, pela originalidade, pela profundidade e pela transcendência do texto”. Moacyr Scliar

Segundo o poeta e tradutor Ivo Barroso, "Pedro Maciel nos faz acreditar que a literatura brasileira possa ainda apresentar alguma coisa de novo que, curiosamente, remonta à própria arte de escrever: o estilo. O seu primeiro romance “A hora dos náufragos”, lançado pela Ed. Bertrand Brasil em 2006, perturba pela força da linguagem. O que há de mais próximo desse livro seriam os famosos fusées de Baudelaire".






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