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"ELES" NÃO SÃO VERBO!
Preciso repetir
tanto esta frase! E, o pior, é que continuo repetindo… Onde? Com crianças e
adolescentes. Português: na frase “Eles desenham no papel”, qual é o verbo?
Quase todos respondem “Eles”. “’Eles’ não são verbo!”.
Há
alguns anos tenho trabalhado com crianças e jovens com dificuldade de
aprendizagem. Sem entrar em pormenores, penso que vale a pena relembrarmos que,
não faz muito tempo, nas escolas públicas brasileiras tínhamos aulas de latim e
francês, por exemplo. E o principal veículo de comunicação em larga escala na
época, a RÁDIO, contava histórias de livros de Jorge Amando, Graciliano e
Guimarães. Liam-se LIVROS, e não “o xerox do resumo do comentário feito a
partir da sinopse de uma resenha” (pode lhe parecer exagero, mas esta é a
impressão que tenho!).
Isto
é muita diferença! Não faço aqui uma apologia ao passado nem à língua
estrangeira em detrimento do nosso riquíssimo idioma, mas fato é que as nossas
crianças, que no geral hoje mal reconhecem a diferença entre verbo, sujeito e
objeto numa frase simples usada por elas cotidianamente, estão bastante aquém
de compreender aquilo que outrora, poucas décadas atrás, crianças também
brasileiras eram capazes de assimilar. E hoje há ainda recursos como previsores
para mensagens de texto, abreviações e emoticons,
em que cada vez mais escreve-se menos.
Pontuo
que o “falar errado” inseridos nas variantes linguísticas deste nosso amplo
território, é diferente; gosto e me identifico com a linguagem coloquial, com
seus neologismos e palavras oriundas de um saber popular. Estou cá discorrendo
sobre “a linguagem” com crianças e jovens em idade escolar e que frequentam
escolas, que ao menos poderiam conhecer a existência de uma “norma culta” nas
apostilas e xerox que deveriam ler.
E
por que escrever bem é importante? Vários fatores, e dentre eles, porque nossa
sociedade define-se como portadora de uma tradição escrita e não oral; dois, a
relação entre LER e ESCREVER é diretamente proporcional: quanto mais se lê,
maior a probabilidade de escrever mais e melhor (e vice-versa), aumentando o
vocábulo e vocabulário, as conexões e sínteses entre as idéias, ampliando o
horizonte cultural, social e político. E, como consequência, podemos incluir
uma maior consciência enquanto pessoa, enquanto cidadão de uma nação em
transformação.
Vamos
lá: quem é que lucra quando o nosso país é composto de populosa massa de
analfabetos funcionais? Uma populosa massa que sabe escrever seu nome, somar
2+3 e comprar o leite certo, mas é incapaz de interpretar corretamente o que
lê, de definir e argumentar suas escolhas, de fazer um pensamento critico a
respeito daquilo que vê e ouve , de discernir sobre acontecimentos cruciais na
história de seu próprio pais. “Brasil, mostra a tua cara, eu quero ver quem paga
pra gente ficar assim…” canta Cazuza.
Ouso
dizer que já começamos a ver o desdobramento destas “lacunas” na “língua mãe”.
Não sei se você, que lê este meu texto, concorda comigo, mas acho eu bastante
degradante e preocupante o que considera-se como “letra de musica”, “filme”,
programas de televisão… Cadê a poesia, a sutileza, a criatividade, o humor
informativo? Cadê a literatura, a musica, a Arte como vanguarda de uma
sociedade mais sutil e inteligente?
Só
por curiosidade peça a uma criança, que já passou pela “idade de alfabetização”
(conforme o Pacto Nacional pela Alfabetização, acima dos 8 anos de idade), para
identificar o que é verbo e o que é sujeito numa frase; nem pergunte o
significado, apenas que exemplifique. E, se quiser arriscar mais, peça-lhe um
exemplo de concordância verbal. Se ainda não bastar, de supetão pergunte a
letra de uma musica que ela mais gosta de ouvir com seus colegas. Cadê? Me diga
se você, caro leitor, encontrou. Eu continuo procurando.
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