sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"ELES" NÃO SÃO VERBO!


Texto publicado no Jornal Agita Pirenópolis

http://araka.com.br/index.php/as-100-melhores-fotos-de-arte-urbana-de-2011/
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"ELES" NÃO SÃO VERBO!
Preciso repetir tanto esta frase! E, o pior, é que continuo repetindo… Onde? Com crianças e adolescentes. Português: na frase “Eles desenham no papel”, qual é o verbo? Quase todos respondem “Eles”. “’Eles’ não são verbo!”.
Há alguns anos tenho trabalhado com crianças e jovens com dificuldade de aprendizagem. Sem entrar em pormenores, penso que vale a pena relembrarmos que, não faz muito tempo, nas escolas públicas brasileiras tínhamos aulas de latim e francês, por exemplo. E o principal veículo de comunicação em larga escala na época, a RÁDIO, contava histórias de livros de Jorge Amando, Graciliano e Guimarães. Liam-se LIVROS, e não “o xerox do resumo do comentário feito a partir da sinopse de uma resenha” (pode lhe parecer exagero, mas esta é a impressão que tenho!).
Isto é muita diferença! Não faço aqui uma apologia ao passado nem à língua estrangeira em detrimento do nosso riquíssimo idioma, mas fato é que as nossas crianças, que no geral hoje mal reconhecem a diferença entre verbo, sujeito e objeto numa frase simples usada por elas cotidianamente, estão bastante aquém de compreender aquilo que outrora, poucas décadas atrás, crianças também brasileiras eram capazes de assimilar. E hoje há ainda recursos como previsores para mensagens de texto, abreviações e emoticons, em que cada vez mais escreve-se menos.
Pontuo que o “falar errado” inseridos nas variantes linguísticas deste nosso amplo território, é diferente; gosto e me identifico com a linguagem coloquial, com seus neologismos e palavras oriundas de um saber popular. Estou cá discorrendo sobre “a linguagem” com crianças e jovens em idade escolar e que frequentam escolas, que ao menos poderiam conhecer a existência de uma “norma culta” nas apostilas e xerox que deveriam ler.
E por que escrever bem é importante? Vários fatores, e dentre eles, porque nossa sociedade define-se como portadora de uma tradição escrita e não oral; dois, a relação entre LER e ESCREVER é diretamente proporcional: quanto mais se lê, maior a probabilidade de escrever mais e melhor (e vice-versa), aumentando o vocábulo e vocabulário, as conexões e sínteses entre as idéias, ampliando o horizonte cultural, social e político. E, como consequência, podemos incluir uma maior consciência enquanto pessoa, enquanto cidadão de uma nação em transformação.
Vamos lá: quem é que lucra quando o nosso país é composto de populosa massa de analfabetos funcionais? Uma populosa massa que sabe escrever seu nome, somar 2+3 e comprar o leite certo, mas é incapaz de interpretar corretamente o que lê, de definir e argumentar suas escolhas, de fazer um pensamento critico a respeito daquilo que vê e ouve , de discernir sobre acontecimentos cruciais na história de seu próprio pais. “Brasil, mostra a tua cara, eu quero ver quem paga pra gente ficar assim…” canta Cazuza.
Ouso dizer que já começamos a ver o desdobramento destas “lacunas” na “língua mãe”. Não sei se você, que lê este meu texto, concorda comigo, mas acho eu bastante degradante e preocupante o que considera-se como “letra de musica”, “filme”, programas de televisão… Cadê a poesia, a sutileza, a criatividade, o humor informativo? Cadê a literatura, a musica, a Arte como vanguarda de uma sociedade mais sutil e inteligente?

Só por curiosidade peça a uma criança, que já passou pela “idade de alfabetização” (conforme o Pacto Nacional pela Alfabetização, acima dos 8 anos de idade), para identificar o que é verbo e o que é sujeito numa frase; nem pergunte o significado, apenas que exemplifique. E, se quiser arriscar mais, peça-lhe um exemplo de concordância verbal. Se ainda não bastar, de supetão pergunte a letra de uma musica que ela mais gosta de ouvir com seus colegas. Cadê? Me diga se você, caro leitor, encontrou. Eu continuo procurando.

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