Texto originalmente publicado no
JORNAL Agita Pirenópolis
dia 30/set/13
Nesta coluna
quinzenal acabo abrindo espaço para discorrer sobre situações no meu cotidiano
de trabalho com áreas ligadas à Cultura, Arte e Saúde. São acontecimentos que,
de certa forma, me afligem e também preocupam… Aí percebi que: 1) ou
posso ficar reclamando e colocando a culpa (sempre) no outro, seja este outro
uma pessoa, governo, instituição; e noto que, se fico nesta postura, me redimo
erroneamente e” finjo” esquecer que sou pessoa vivente numa sociedade que
também é construída por mim; 2) ou então posso me ocupar em fazer!
E aprendendo a me
ocupar em fazer, compartilho mais este texto! Já agradeço por todos os
comentários e mensagens que tenho recebido de amigos, conhecidos e de pessoa
que ainda não conheço pessoalmente (mas já estamos conectadas virtualmente!):
estamos fazendo juntos! Continuem “postando” suas críticas e observações; estou
escutando…
Hoje deixo aqui
registrado a ocasião em que eu estava em aula com crianças, entre 10 a 12 anos,
que começaram a cantar. Eu não conhecia a musica e por isso perguntei qual era,
apesar de – somente pelo ritmo/”batidão” – já ter uma prévia do que se tratava.
O tema daquela aula era ARTES e, aproveitando o gancho, perguntei se aquela
musica, especificamente, pode ser considerada uma obra de arte.
Após um certo
silêncio, um arriscou:
- É arte sim, pro.
- Por que você acha
isso? – perguntei
- Porque a musica é
um tipo de arte
Sim, a musica é umas
das expressões da ARTE. Mas o que faz esta musica que você ouve e canta ser
considerada uma arte? Vocês já pensaram sobre esta música que vocês cantam?
Como é a letra? Sobre o que ela conta?
Novamente silêncio;
pensavam. Após um tempo:
- Ih, professora,
não fala nada de bom não… é só “o cara, as minininha…” (e fez uma careta e um
gesto acompanhando esta última frase).
Continuei:
- Pessoal,
considerando que um dos papéis da ARTE é nos fazer pensar, ter outras idéias,
idéias que nos acrescentam positivamente; e possibilitar uma outra maneira de
lidar com a vida. Assim, posso dizer que esta musica que vocês cantavam agora pouco
não é uma obra de ARTE. O que vocês acham?
- É… se a gente for
pensar, pro…
- Não tem mesmo nada
de bom pra aproveitar da musica… – outro completou.
E uma das alunas
disse:
- Mas a minha mãe
escuta comigo esta musica!
Confesso que fiquei
triste com este argumento. E expus isso a ela:
- Fico triste em
saber disso. Há tanta musica com conteúdo legal pra gente escutar…
- A gente não escuta
mais as musicas de antigamente… – falou outro garoto.
- É, é essa a musica
é a que todo mundo escuta hoje!. – disse uma segunda menina.
- Sim, e há sessenta
anos atrás, por exemplo, “todo mundo” ouvia o que hoje chamamos de musica
clássica, uma das “musicas de antigamente”, como você disse. Alguém já escutou
este tipo de musica em que há instrumentos, sem voz humana?
De um grupo de quase
dez crianças entre 10 e 12 anos, numa escola particular, só um levantou a mão:
- Eu já, a do cara
que era surdo e que tocava piano!
Acrescentei:
- Beethoven foi um
musico alemão que, já adulto, começou a perder progressivamente a audição. E
mesmo com esta dificuldade continuou compondo e tocando músicas. E há menos de
cinquenta anos atrás suas musicas eram uma das que todo mundo ouvia.
E assim fomos
conversando… por fim, ficou acordado que eu levaria outros tipos de musicas
para que pudessem conhecer e assim saber se gostariam ou não: instrumental
(clássico e contemporâneo), musicas de “raiz”, outras tradicionais brasileiras,
enfim… selecionei um repertório diversificado, diferente do que conhecia a
maioria dos alunos, que começavam a se abrir para escutar outras coisas
através da música.